terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Sugestão de pauta

Me chamem de chorona, classifiquem a minha história como normal, afinal eu – infelizmente - não sou a única vítima da violência urbana de nossa cidade (sim, vou falar de Belém e que não me apareçam os óbvios dizendo que o problema faz parte de qualquer grande metrópole, porque disso eu já sei). Não me importo nem um pouco.

Moro no Guamá desde que nasci. Sempre defendi o bairro com unhas e dentes de acusações injustas de pessoas que não o conhecem e ousam falar algo referente aos assaltos ou furtos ocorrentes lá. Passei mais de 20 anos vivendo na rua 25 de junho nº 171A entre a Epitácio Pessoa e a Passagem Popular – meu atual endereço - sem que qualquer registro de tentativa de assalto tenha ocorrido comigo ou com um de meus familiares e amigos. De seis meses para cá, no entanto, esse índice mudou. E como nada nesse país melhora, obviamente que minha família e eu não continuamos mais invictos.

De agosto de 2009 até esta presente data, TODOS NÓS – eu, minha mãe, meu irmão, meu pai e meu primo – fomos assaltados. Tenho o Boletim de Ocorrência de cada um desses delitos para comprovar. Eu lidero o ranking da família com 2 assaltos em 4 meses. Todos os crimes foram cometidos a menos de 50 metros de nossa residência. E eu nem estou citando os vizinhos.

Poupar-lhes-ei de narrar o prejuízo financeiro e material dos incidentes, me concentro apenas em descrever o quanto tais ocorridos estão influenciando a vida de minha família a partir de agora: vamos vender a nossa casa – único patrimônio da nossa família, adquirido com o trabalho do meu pai, nordestino e analfabeto – e tentar adquirir um outro imóvel – o que está sendo muito difícil de ser feito já que meus pais são autônomos e não conseguimos comprovar renda. Vendemos o carro da família para que tivéssemos dinheiro em caixa para facilitar o financiamento que mesmo assim ainda não saiu, não recebemos mais amigos em casa e não comemoramos mais aniversários, meu pai parou de trabalhar para que tivesse tempo disponível de ir buscar de moto cada membro da família na escola ou trabalho e estamos vivendo unicamente com a renda do trabalho de minha mãe.

Em suma, agora nó vivemos PIOR unicamente porque as autoridades responsáveis não tomam NENHUMA providência efetiva e imediata. Não falo apenas de polícia nas ruas, falo de justiça mesmo. Dane-se os direitos humanos se, na prática, eles não defendem os interesses de um cidadão de bem.

Que cidade é essa onde uma pessoa desempregada que comprar um celular de 130 reais e parcela em 10 vezes no cartão de crédito é assaltada? Donos de banco, empresários e joalherias deveriam ter medo de serem assaltados, não eu.

Não escrevo esta carta para exigir medidas governamentais ou novas políticas públicas. Sem receio algum de parecer exagerada, eu lhes escrevo unicamente para IMPLORAR que algo seja feito! Se não para salvar o mundo, para amenizar o problema de ruas como a em que vivo.

Tenho muito medo do que possa vir a acontecer com minha família caso não consigamos “fugir” do problema. Em um dos assaltos meu pai correu atrás do ladrão que depois atirou. Revoltados, os vizinhos acionaram a melícia do bairro. É uma guerra, com armas e vítimas.

Não espere que situações semelhantes – ou até piores do que esta – aconteçam com você. Denuncie, discuta e, principalmente aos amigos jornalistas aos quais envio o e-mail– DIVULGUEM! Enquanto o seu filho não puder brincar na rua, enquanto mulheres continuarem escondendo os aparelhos celulares em partes intimas do corpo, esse assunto não pode NUNCA deixar de ser pautado pelos veículos de comunicação de algum respaldo.

No mais, evitem que eu – enlouquecida como estou – encha sua caixa de entrada com um desabafo desesperado.

Atenciosamente,
Helaine Cavalcante.

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