sexta-feira, 21 de maio de 2010

Uns 20 dias.

Tampe os ouvidos com grandes maços de algodão. Durma. Tranque-se no seu quarto ao som de seu aparelho de mp3. Leia um livro trancado em algum lugar. Sim, qualquer coisa só poderá ser feita se você estiver sozinho, trancado em algum lugar. Dificilmente encontrará a companhia de alguém nesse isolamento e o barulho dos vizinhos será ensurdecedor. Se nada disso funcionar, dope-se. Ou mude-se para uma bolha.

Agora que eu vi que gastei um parágrafo inteiro descrevendo o que um ser humano que não gosta da Copa do Mundo faz em dias de jogo do Brasil. Isso não estava previsto para ser escrito quando estruturei o texto em minha mente ontem a noite enquanto estava no carro, indo trabalhar, e vi um cara vendendo chopp na rua com uma camisa da seleção. Não estava "programado", mas eu gosto de como as idéias estão se organizando agora.

Eu fico imaginando o quanto triste deve ser para um ser humano que não goste de copa do mundo "aturar" todo esse fuzuê que fica o mundo todo nessa época. Se você entrar na internet, pode crer que os sites de notícias não falarão de outra coisa, no youtube os vídeos mais vistos serão lances dos jogos, todo mundo no twitter e no msn estarão postando frases do tipo: "Vai Robinho! Segura Julio! Porra Seu juiz! Gooooooooollll", o orkut irá disponibilizar aquelas opções de personalizar a tela de fundo com as cores verde e amarela e claro que quase todos os seus amigos irão escolher essa opção (tal como foi na últimas olimpíadas). Não vai ter como fugir.

Mas do que isso, o quão chato deve ser procurar fazer qualquer outra coisa enquanto a sua família e amigos estão ocupados demais ligados na seleção canarinho.

Não sei como é na casa de vocês, mas na minha a copa do mundo é tão importante quanto Círio e Natal. A casa tem que estar todo enfeitada. Balões, bandeirinhas, confete, serpentina. Mamãe faz um lanche especial pra hora do jogo. Nada de pipoca. Ah, e temos que seguir duas regras: todos tem que assinar o meu bolão e ninguém pode fazer um bolão para concorrer com o meu. Claro que eu que criei essas regras, com a represália de punir os infratores com constantes sessões de cócegas. Ah, tem mais uma regra. Fundamental por sinal. Ninguém pode assistir os jogos em outro lugar. Todos da família tem que assistir todos os jogos do Brasil juntos, sempre. Não sei quem criou essa norma, mas todos nós seguimos há tanto tempo que eu confesso já ser natural para mim. Isso porque romper tradição pode trazer má sorte.

Nunca me importei com sandálias viradas, bem-te-vi cantando na janela de uma casa não me faz acreditar que lá tem uma grávida e acredito que colocar algodão molhado na testa da criança quando ela está com soluços é uma grande bobagem. Mas, em copa do mundo, eu viro superticiosa. Mesma roupa em todos os jogos. Incluindo a mesma roupa íntima, devidamente lavada, é claro. Tenho que sentar no mesmo lugar e segurar a mesma corneta ou bandeira. Se o gol demora pra sair, eu passo mal. Minha pressão cái. Já fui ao pronto-socorro nessa brincadeira.

Foi na final da copa das confederações de 2005, contra a Argentina. Adriano levou pros penaltis com um golaço nos acréscimos do segundo tempo. Lindo. Nunca gritei tanto em toda a minha vida. Mamãe correu e me entupiu de água com açúcar. Mas não resolveu muito. Eu estava branca feita a neve.

A copa de 2002 teve um sabor especial para mim. Acompanhei todos os jogos porque estudava a tarde. Torci pelo Brasil, vibrei com cada expressão do Filipão. E quando o jogo da final acabou, vi minha família inteira pulando e se abraçando em sicronia. Parecia ensaiado.

Sem me prolongar com depoimentos pessoais, só escrevi esse texto para dizer que durante a copa do mundo a cidade fica mais bonita e as pessoas mais felizes. Seja porque não precisam trabalhar na hora do jogo ou seja pela cerveja e farra. A cada 4 anos, vejo uma felicidade que eu não encontro em outras épocas.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

O meu ciúme e o despeito de Brás.

Por apenas um momento – delimitado entre a primeira e última palavra redigida neste texto – esqueçamos a teoria elaborada em um dos mais clássicos episódios do “Chaves” e nos concentremos no doce sabor que mata e envenena a alma.

Pelo menos quando se trata de relacionamentos, a vingança pode significar o mesmo que saborear um belo PF após um jejum de semanas.

Tenho consciência de que não é muito bonito dizer isso, mas sou absolutamente a favor de que qualquer ser humano maior de idade deva fazer o que quiser fazer desde que o fim seja seu próprio bem-estar. Qualquer atitude lícita, é claro. Se isso incluir se vingar de alguém, paciência.

O ciúme é sempre um bom jogo. Cercado de apostas e blefes, o ato de provocar ciúme pode até ser comparado com uma boa partida de poker.

Vou contar uma historinha engraçada que chega até ser vergonhosa para mim. Mas enfim...

Aos 16 anos, tive meu primeiro namorado. Ficamos juntos por apenas dois meses em um daqueles namoricos sem graças de escola que - no meu caso, para tornar minha primeira experiência amorosa ainda mais sem graça - era adventista e proibia namoros, o que incluía meninas sentarem ao lado dos meninos na hora do intervalo a menos que estivessem sobre a vigilância de um dos monitores do colégio.

O dito cujo terminou comigo usando desculpas idiotas do tipo ‘não estou pronto para um relacionamento tão sério”. Percebe-se que alguns homens começam precocemente a exercer a arte da galinhagem, mas tudo bem. No fundo, eu sabia que ele estava apenas a fim de dar um tempo, ficar com umas meninas bem mais saidinhas do que eu e garantir que eu estivesse ali de stand by para quando ele quisesse voltar. Se fosse só a mentira, eu teria suportado o rompimento sem mágoas e seguiria o seu plano não declarado porque eu realmente gostava dele. Mas o que eu não consegui perdoar foi o fato dele ter subestimado minha inteligência achando que eu não entenderia o real motivo da separação repentina.

Sempre soube que a melhor coisa que se pode fazer para se vingar de um homem é atingir o seu ponto fraco. O seu ego.

Incessantemente imatura, foi durante a aula de educação física de todo o ensino médio do colégio que estudávamos, que eu me encontrei com um outro garoto que, além de vizinho do meu ex em questão, nunca tinha sido sutil em demonstrar interesse em mim para todos os nossos amigos em comum. Fiquei com outro, na frente de todo mundo, dois dias após o término de meu primeiro namoro sério. Acredito que o pior para o meu ex não foi ver a cena em si, mas ter que responder os desavisados surpreendidos que perguntavam a ele: -Ué, você e ela não estavam juntos?

Eu sabia que ao fazer toda essa encenação infantil - digna de ser integrada ao roteiro de Malhação – exterminaria automaticamente todas as chances de reconciliação ainda existentes. E mesmo gostando dele de uma maneira que poucas vezes gostei de alguém, não me importei. Entre se vingar e ficar por baixo, eu preferi a primeira opção.

Despertar ciúme pode ser a melhor maneira de se vingar de alguém.



O único problema é que quando não se tem mais 16 anos, extrapola-se a altura máxima para brincar neste carrossel.

A inteligência e a superioridade não necessitam ser expostas em situações como estas. Às vezes, vale muito mais não fazer nada. Costumo dizer que de todos os inúmeros defeitos que possuo, Deus me privou da burrice. Por isso, ser indiferente com quem é indiferente comigo é o que eu sei fazer de melhor atualmente.

Para os machadianos como eu, uma última reflexão: Brás não sentiu ciúme de Virgília quando ela se casou com Lobo Neves. Tão pouco sentiu inveja quando Lobo Neves foi indicado ao cargo público que Brás tanto almejava. No seu íntimo, ele sentiu algo ainda pior. Despeito. Isso porque tinha a mais absoluta certeza de que era muito melhor do que Lobo Neves.