segunda-feira, 3 de maio de 2010

O meu ciúme e o despeito de Brás.

Por apenas um momento – delimitado entre a primeira e última palavra redigida neste texto – esqueçamos a teoria elaborada em um dos mais clássicos episódios do “Chaves” e nos concentremos no doce sabor que mata e envenena a alma.

Pelo menos quando se trata de relacionamentos, a vingança pode significar o mesmo que saborear um belo PF após um jejum de semanas.

Tenho consciência de que não é muito bonito dizer isso, mas sou absolutamente a favor de que qualquer ser humano maior de idade deva fazer o que quiser fazer desde que o fim seja seu próprio bem-estar. Qualquer atitude lícita, é claro. Se isso incluir se vingar de alguém, paciência.

O ciúme é sempre um bom jogo. Cercado de apostas e blefes, o ato de provocar ciúme pode até ser comparado com uma boa partida de poker.

Vou contar uma historinha engraçada que chega até ser vergonhosa para mim. Mas enfim...

Aos 16 anos, tive meu primeiro namorado. Ficamos juntos por apenas dois meses em um daqueles namoricos sem graças de escola que - no meu caso, para tornar minha primeira experiência amorosa ainda mais sem graça - era adventista e proibia namoros, o que incluía meninas sentarem ao lado dos meninos na hora do intervalo a menos que estivessem sobre a vigilância de um dos monitores do colégio.

O dito cujo terminou comigo usando desculpas idiotas do tipo ‘não estou pronto para um relacionamento tão sério”. Percebe-se que alguns homens começam precocemente a exercer a arte da galinhagem, mas tudo bem. No fundo, eu sabia que ele estava apenas a fim de dar um tempo, ficar com umas meninas bem mais saidinhas do que eu e garantir que eu estivesse ali de stand by para quando ele quisesse voltar. Se fosse só a mentira, eu teria suportado o rompimento sem mágoas e seguiria o seu plano não declarado porque eu realmente gostava dele. Mas o que eu não consegui perdoar foi o fato dele ter subestimado minha inteligência achando que eu não entenderia o real motivo da separação repentina.

Sempre soube que a melhor coisa que se pode fazer para se vingar de um homem é atingir o seu ponto fraco. O seu ego.

Incessantemente imatura, foi durante a aula de educação física de todo o ensino médio do colégio que estudávamos, que eu me encontrei com um outro garoto que, além de vizinho do meu ex em questão, nunca tinha sido sutil em demonstrar interesse em mim para todos os nossos amigos em comum. Fiquei com outro, na frente de todo mundo, dois dias após o término de meu primeiro namoro sério. Acredito que o pior para o meu ex não foi ver a cena em si, mas ter que responder os desavisados surpreendidos que perguntavam a ele: -Ué, você e ela não estavam juntos?

Eu sabia que ao fazer toda essa encenação infantil - digna de ser integrada ao roteiro de Malhação – exterminaria automaticamente todas as chances de reconciliação ainda existentes. E mesmo gostando dele de uma maneira que poucas vezes gostei de alguém, não me importei. Entre se vingar e ficar por baixo, eu preferi a primeira opção.

Despertar ciúme pode ser a melhor maneira de se vingar de alguém.



O único problema é que quando não se tem mais 16 anos, extrapola-se a altura máxima para brincar neste carrossel.

A inteligência e a superioridade não necessitam ser expostas em situações como estas. Às vezes, vale muito mais não fazer nada. Costumo dizer que de todos os inúmeros defeitos que possuo, Deus me privou da burrice. Por isso, ser indiferente com quem é indiferente comigo é o que eu sei fazer de melhor atualmente.

Para os machadianos como eu, uma última reflexão: Brás não sentiu ciúme de Virgília quando ela se casou com Lobo Neves. Tão pouco sentiu inveja quando Lobo Neves foi indicado ao cargo público que Brás tanto almejava. No seu íntimo, ele sentiu algo ainda pior. Despeito. Isso porque tinha a mais absoluta certeza de que era muito melhor do que Lobo Neves.

Nenhum comentário:

Postar um comentário