A) Jornalista comum e normal (pouca coisa mudou): Trabalho num jornal novo em Santo André (SP). Divido apartamento com o Rafael. Ganhamos razoavelmente, mas nenhum dinheiro do mundo paga a felicidade de termos a liberdade que sempre sonhamos. Ah, nos fins de semana a gente chama os amigos para comer pizza e ver seriados lá em casa, para tormento da nossa vizinha chata que tem 85 anos e nos odeia.
B) Nem lá, nem cá: Passei no concurso da Funtelpa, casei com o príncipe encantado que só não é mais encantado assim porque é jornalista e ganha mal. Ele ajuda o “Jornal Pessoal” que tenta se reerguer após a morte do Lúcio. Moramos em um apartamento de dois quartos. Saímos pouco. Só brigamos pelo controle da televisão quando ele quer ver futebol e eu o jornal. Não temos filhos, ainda.
C) Jornalista bem sucedida (esse sempre foi o plano): Em 20 de abril de 2020, estaria eu chegando em casa absolutamente exausta. Já saindo do elevador ouço os latidos dos meus cachorros. Ana, minha empregada, esqueceu de preencher a vasilha de água de Brás (poodle preto) e Virgília (Sheepdog ). Ligo a secretária eletrônica e ouço 3 mensagens: uma do meu padrinho dizendo que sente saudades e perguntando se voltarei para Belém em agosto para o aniversário da Alice, outra da minha mãe perguntando se eu estou lembrando de desligar o forno (as mães nunca mudam) e outra mensagem do Rafa dizendo que leu minha última matéria sobre o tráfico de órgãos e fazendo alguma piada do gênero “Podem roubar tudo menos minha senha no twitter”. Sim, nesse plano eu tenho uma vida tranqüila, realizo meu sonho de morar sozinha e sou feliz assim. Namoro o fotógrafo da minha editoria no jornal. O “New York Times”. Se for pra sonhar tem que ser alto, né?
Consigo me imaginar em qualquer uma dessas situações. Só não me vejo daqui há dez anos no mesmo lugar e fazendo as mesmas coisas.